domingo, 9 de dezembro de 2007

 

Psicologia Transpessoal - em busca da unidade do ser

Parte 1 - A Ciência Mecanicista

Ana Maria Garcez




Introdução
A motivação para o desenvolvimento deste trabalho, resulta primeiramente de uma insatisfação com os modelos propostos pela psicologia tradicional ao negligenciar a dimensão espiritual do ser.

Acredito que a Psicologia não deve limitar-se a um trabalho ao nível da personalidade, o que constitui uma visão reducionista e fragmentada do homem.

Neste sentido, foi realizada uma pesquisa sobre a Psicologia Transpessoal, um movimento que nasceu da abordagem humanista na década de sessenta, que propôs uma ampliação desses conceitos, incluindo a perspectiva espiritual.

Este estudo não pretende ser exaustivo, mesmo porque a gama de aspectos que abrange é muito ampla, mas constitui-se numa proposta introdutória.

Um dos objetivos deste estudo é a proposta de uma visualização da relação do paradigma newtoniano-cartesiano com os diversos campos do conhecimento, e das limitações geradas por essa relação.

Este trabalho visa principalmente, caracterizar esse novo movimento que surge no âmbito da Psicologia, o movimento transpessoal, que como se denomina, vai além do pessoal e reveste-se de um caráter holístico, que tem íntima relação com o novo paradigma.


"A análise obtém seu significado somente pela síntese; sem ela, degenera num processo de desintegração desprovido de sentido."

Lama Govinda

"Aqueles que consideram a forma destituída da importância também deixam escapar o espírito; aqueles que se apegam na forma perdem o verdadeiro espírito que tentam preservar. Forma e movimento são o segredo da vida, a chave para a imortalidade."

Lama Govinda

"O especialista é um homem que sabe cada vez mais sobre cada vez menos, e acaba sabendo tudo sobre nada..."

Bernard Shaw

"Para Freud tudo é "epi", somente o indivíduo tem valor...Para Marx, tudo se resume no social, ou, mais especificamente, no sócio-econômico. Era como se isso fosse tudo o que existisse no mundo...Há um mundo mais amplo, além da psicodinâmica e sociodinâmica da sociedade humana: a "cosmodinâmica". O homem é um homem cósmico, e não somente um homem social ou um homem individual."

J.L. Moreno

O Paradigma Newtoniano - Cartesiano

Nos três últimos séculos, a ciência orientou-se segundo o paradigma newtoniano-cartesiano. Trata-se de um sistema de pensamento baseado especialmente na contribuição do filósofo francês René Descartes e do cientista inglês Isaac Newton. Outros mentores do pensamento moderno foram Galileu, Nicolau Copérnico, Francis Bacon, Thomas Hobbes e John Locke.

Vejamos a obra de Descartes e Newton, e sua influência nas diversas reas do conhecimento.

Refere Crema (1989) que Descartes (1596-1650), filósofo e matemático francês, foi considerado o fundador do racionalismo moderno. O método racionalista-dedutivo proposto por Descartes como o único científico, destaca sobretudo a Matemática. Através da análise, estabeleceu o dualismo na Filosofia, considerando a natureza dividida em domínios distintos e independentes: mente e matéria, alma e corpo, ambas determinadas por uma eterna e infinita substância, Deus. Seus seguidores, no entanto, omitiram a referência a essa terceira substância cuja existência era essencial na filosofia científico-cartesiana. O homem é descrito como uma máquina que contém a alma e o pensamento. Surge então a concepção mecanicista, estabelecendo-se a visão racionalista-mecanicista-reducionista.

Grof (1987, p.13) assim resume a influência cartesiana:

"Contribuiu significativamente para o paradigma dominante com uma formulação extrema do dualismo absoluto entre mente e matéria, que resultou na crença de que o mundo material pode ser descrito com objetividade, sem referência ao observador humano"

Acrescenta o autor, que esse conceito foi muito útil no desenvolvimento rápido das ciências naturais e da tecnologia, mas alerta para uma importante conseqüência - a negligência de uma abordagem holística dos seres humanos, da sociedade e da vida no planeta.

Assinala Crema (1989) que Isaac Newton (1642-1727), matemático, físico, astrônomo e teólogo inglês, fundador da Mecânica Clássica, estabeleceu uma síntese, aliando e superando o método empírico-indutivo de Bacon e o racional-dedutivo de Descartes, no seu sistema que unificou a metodologia da experiência e da matemática, tendo integrado e ampliado as contribuições de Copérnico, Kepler e Galileu.

Observa este autor que Newton, além de sistematizar a Mecânica, criou o cálculo infinitesimal, postulou a teoria de gravitação universal, contribuiu para o desenvolvimento das leis de reflexão e refração luminosas e propôs a teoria sobre a natureza corpuscular da luz. Adotou, acrescenta ele, a noção do espaço tridimensional da Geometria Euclidiana, um espaço absoluto, inalterado e imóvel e um tempo também absoluto, uniforme, sem dependência de qualquer coisa externa. A matéria segundo o modelo newtoniano, continua, consiste de partículas homogêneas, sólidas e indestrutíveis, sujeitas .à. força da gravidade.

Este mesmo autor observa que o conceito de ciência vigente, ainda influenciado pela visão de mundo mecanicista, fundamenta-se nos cinco sentidos humanos, no raciocínio lógico indutivo e dedutivo, na tentativa de descobrir ordem e uniformidade, na busca de relações ordenadas causais entre os eventos, na previsibilidade, regularidade e controle. Postula objetividade, partindo da observação neutra e imparcial, utilizando técnicas matemáticas e experienciais de acordo com o modelo determinista causal.

Grof (1987) refere que o modelo Newtoniano-cartesiano provou seu sucesso em diversas áreas do conhecimento nos séculos XVIII e XIX e que a Física, sob esse modelo, obteve grande sucesso, tendo a adesão à visão mecanicista de mundo possibilitado o progresso científico de outras disciplinas como química, biologia, medicina, psicologia, psiquiatria, antropologia e sociologia.

A teoria newtoniana, conforme Capra (1993), foi capaz de explicar o movimento dos planetas, luas e cometas nos mínimos detalhes, assim como o fluxo das marés e vários outros fenômenos relacionados com a gravidade. Foi marcante sua influência para a química, igualmente, pelo estudo do comportamento físico dos gases, por exemplo, que possibilitou aos químicos desenvolverem uma precisa teoria atômica da química, estendendo-se a mecânica newtoniana, então, muito além da descrição dos corpos macroscópicos. O comportamento dos sólidos, líquidos e gases, e os fenômenos de calor e som, igualmente foram explicados com sucesso em termos do movimento de partículas materiais elementares.

Esse enorme sucesso do modelo mecanicista, constata o autor, confirmou a convicção de que o universo era, de fato, um gigantesco sistema mecânico que funcionava de acordo com as leis newtonianas do movimento, e de que a mecânica de Newton era a teoria definitiva dos fenômenos naturais.

Com o firme estabelecimento da visão mecanicista do mundo do século XVIII, acrescenta este autor, a Física tornou-se naturalmente a base de todas as ciências.
Capra (1993) faz uma síntese de como o antigo paradigma afetou diversas áreas do conhecimento. Afirma que a prática econômica contemporânea foi afetada entre outros fatores:

- pela fragmentação das especializações;
- pelo desvinculamento dos valores superiores da humanidade;
- pela abordagem competitiva na exploração da natureza;
- pelo esgotamento progressivo dos recursos naturais;
- pelo consenso de que a natureza existe para o homem;
- pela visão do homem como um ente consumidor, o que levou a um consumismo desenfreado;
- pela confusão entre riqueza material e felicidade;
- pela tecnologia .à serviço da destruição em massa e à venda de 70% de armamentos aos países do terceiro mundo;
- pela divisão sócio-econômica norte-sul do mundo;
- pela exploração indiscriminada das sociedades pelas multinacionais sobretudo no terceiro mundo, etc.

Segundo Capra, na educação houve uma fragmentação do ensino (o desenvolvimento do intelecto cabe as escolas e o desenvolvimento do caráter à família), sendo que o conhecimento se tornou mercadoria a ser adquirida.

Observa que a medicina sofreu o desaparecimento do clínico geral, sendo levada às superespecializações (ausência de uma visão sintética do homem). Adotou uma visão do paciente como objeto de estudo e do corpo como máquina a ser consertada, desprezando os aspectos psicológicos da doença.

Revela ainda que na política predomina um reducionismo assim como na economia, em torno de conceitos tecnológicos de produtividade e de consumismo, sem consideração pelo meio ambiente. Destaca que a decepção do público com a política aumenta em todos os países, o que gera descrença das populações em seus dirigentes.

Na Filosofia, identifica uma profusão de teorias filosóficas levando a um desconhecimento das idéias básicas entre os filósofos.

Essa descrição se estende a todos os domínios e constitui uma constatação dos fenômenos atuais associados à cultura vigente.

Crema (1989) faz uma avaliação da abordagem que prevaleceu nos últimos séculos:

"As contradições do paradigma cartesiano-newtoniano com seu racionalismo clássico também se acumularam. Suas falhas e anomalias foram progressiva e coerentemente denunciadas por uma vanguarda de pensadores. Sua característica, basicamente reducionista, conduziu a um aprofundamento da referida crise de fragmentação interna (a nível intrapsíquico) e externa (a nível interpessoal, internacional, etc.) que chegou a um grau quase insustentável. O culto do intelecto e o exílio da dimensão do coração e do espírito gerou uma crescente patologia dissociativa. Como seria de se esperar, respostas inteligentes surgiram ao desafio da crise. E, no alvorecer do século XX, começou a se delinear uma nova Física, dando respaldo e facilitando o surgir de um novo e abrangente paradigma, destinado a reorientar a consciência da Idade pós-Moderna". (p.38)


Identifica-se, portanto, que apesar das grandes conquistas científicas e tecnológicas possibilitadas pela visão mecanicista, as conseqüências da extrapolação desta abordagem não foram menos importantes, gerando graves problemas na atualidade.


O Modelo Newtoniano-Cartesiano nas Escolas Psicológicas

A influência cartesiana também se fez presente na Psicologia. A concepção da divisão mente-corpo direcionou o pensamento de muitos pesquisadores.

Conforme Capra (1993), nas primeiras décadas do século XX as três principais correntes do pensamento psicológico basearam-se no paradigma cartesiano e em conceitos newtonianos de realidade.

Lembra o autor que os estruturalistas estudaram a mente através da introspecção e tentaram analisar a consciência em seus elementos básicos e que os behavioristas concentraram-se exclusivamente no estudo do comportamento ignorando ou negando a existência da mente. Assinala este autor que ambas essas escolas surgiram numa época em que o pensamento científico era dominado pelo modelo newtoniano de realidade.

Acrescenta Capra (1993), que o trabalho desenvolvido por Sigmund Freud com ênfase na clínica, a psicanálise, embora fosse uma teoria revolucionária, foi baseada também em conceitos de natureza newtoniana.

Segundo este autor, estudos sobre o cérebro e o sistema nervoso, estabeleceram relações específicas entre funções mentais e estruturas cerebrais, esclarecendo muitas funções do sistema nervoso e proporcionando um conhecimento detalhado da anatomia e da fisiologia dos órgãos sensoriais. Com estes avanços, acrescenta o referido autor, os modelos mecanicistas descritos entre outros por Descartes, foram reformulados em termos modernos, fortalecendo a orientação newtoniana.

Mueller (1978) destaca que a descoberta dos reflexos condicionados representa uma contribuição fundamental à nova psicologia no aspecto mais radicalmente objetivista, devido à relevância que lhe conferiu o behaviorismo de Watson.

Acrescenta este autor, que as pesquisas que eram realizadas com a introdução sistemática da anatomia e da fisiologia no domínio da psicologia desde Wundt, permitiram o aparecimento e o desenvolvimento da psicologia, pelo estudo das correlações de certas funções psíquicas com o corpo, o que reivindicava para a psicologia uma posição experimental e, portanto, científica.

Capra (1993), ressalta, que com a descoberta de correlações entre a atividade mental e a estrutura do cérebro, os pesquisadores puderam localizar as funções motoras e sensoriais primárias, entretanto não chegaram à explicações coerentes com relação aos processos cognitivos superiores como a aprendizagem e a memória.

O mesmo autor comenta que, impregnado pela mentalidade da época, Wundt tomou como protótipos de ciência a física e a matemática, e concebeu a psicologia à imitação delas. Seu mérito, conclui, é essencialmente empírico, constituindo na observação, que seria a técnica de verificar os fatos tais como se apresentam, e na experimentação, definida como uma observação provocada, acompanhada sempre de medida.

Revela este autor que havia ainda uma clara atitude dualista entre os psicólogos experimentais ortodoxos do século XIX, ao tentar estabelecer a distinção mente e matéria.

Capra (1993) destaca que duas poderosas escolas, no entanto, dominaram o pensamento psicológico nas primeiras décadas deste século - o behaviorismo e a psicanálise, que embora diferindo radicalmente em seus métodos e concepções, aderiram ao mesmo modelo newtoniano de realidade.

O referido autor diz que o behaviorismo, fundado por Watson, representou a culminação da abordagem mecanicista em psicologia. Acrescenta que, o behaviorismo foi muito influenciado pela obra de Pavlov sobre reflexos condicionados, tendo identificado a psicologia como estudo do comportamento.

Assinala Capra (1993) que Watson almejava elevar o status da psicologia ao de uma ciência natural objetiva e, para isso, aderiu o mais rigorosamente possível à metodologia e aos princípios da mecânica newtoniana, exemplo de rigor e objetividade científicos.

Observa este autor que para que os experimentos psicológicos pudessem ser submetidos aos critérios usados na física, os psicólogos deveriam concentrar-se apenas em fenômenos que pudessem ser registrados e descritos objetivamente por observadores independentes. Assim, Watson passa a criticar o método introspectivo usado por James, Freud e Wundt e os conceitos de "consciência", mente, pensamento e sentimento, foram excluídos da psicologia.

Na concepção behaviorista, revela o autor, os organismos vivos são vistos como máquinas complexas que reagem a estímulos externos, o que teve por modelo a física newtoniana.

Segundo Capra (1993), a outra escola dominante dentro da psicologia do século XX foi a psicanálise. Refere ter sido a contribuição de Freud, extraordinária, ao descobrir o inconsciente e sua dinâmica, abrindo para a psicologia as dimensões do inconsciente recalcado, região do psiquismo até então desconhecida.

Ressalta este autor que a teoria de Freud consistiu numa psiquiatria voltada para o estudo das forças que levam aos distúrbios psicológicos, tendo enfatizado a importância das experiências da infância no desenvolvimento futuro do indivíduo, e identificado a libido ou impulso sexual, como uma das principais forças psicológicas. Ampliando consideravelmente o conceito de sexualidade humana, descreveu as principais fases do desenvolvimento psicossexual.

Destaca Capra (1993) a importância da descoberta de Freud da interpretação dos sonhos como uma forma de acesso ao inconsciente, ressaltando igualmente suas formulações teóricas da personalidade. Observa que Freud sempre teve a preocupação em fazer da psicanálise um disciplina científica.

Conforme Capra (1993), é possível identificar a estreita relação entre a psicanálise e a física clássica nos seguintes conceitos básicos da mecânica newtoniana:

- Os conceitos de espaço e tempo absolutos, e o de objetos materiais separados movendo-se neste espaço e interagindo mecanicamente.

- O conceito de forças fundamentais, essencialmente diferentes da matéria.

- O conceito de leis fundamentais, descrevendo o movimento e as interações mútuas dos objetos materiais em termos de relações quantitativas.

- O rigoroso conceito de determinismo e a noção de uma descrição objetiva da natureza, baseada na divisão cartesiana entre matéria e mente.

Estes conceitos, observa o autor, correspondem .às quatro perspectivas básicas a partir das quais os psicanalistas têm tradicionalmente abordado e analisado a vida mental. São conhecidas, respectivamente, como os pontos de vista topográfico, dinâmico, econômico e genético.

No sistema freudiano, afirma Capra (1993), todos os mecanismos da mente são impulsionados por forças semelhantes às do modelo da mecânica clássica.

Esclarece este autor que, assim como na física newtoniana, na psicanálise a concepção mecanicista de realidade subentende um rigoroso determinismo. Todo o evento psicológico tem uma causa definida e dá origem a um efeito definido, e o estado psicológico total de um indivíduo é determinado pelas condições de sua infância. A abordagem genética, conclui Capra (1993), situa a causa original dos sintomas e do comportamento de um paciente nas fases prévias de seu desenvolvimento, numa cadeia linear de relações de causa e efeito.

É possível identificar, portanto, nas escolas psicológicas descritas, uma marcante influência cartesiana e newtoniana. A dominância do paradigma mecanicista levou forçosamente a uma aderência a esta orientação quase implícita, revelada na visão dos pesquisadores citados, em última análise perseguidores do caráter científico da psicologia.

Sobre esse aspecto e ressaltando os aspectos negativos impostos pela ciência mecanicista, afirma Grof (1987):

"Um paradigma é mais que simplesmente um modelo teórico útil para a ciência; sua filosofia configura o mundo através de influência indireta sobre o indivíduo e a sociedade. A ciência newtoniana-cartesiana criou uma imagem muito negativa do ser humano, apresentando-o como uma máquina biológica movida por impulsos instintivos de natureza bestial, e não reconhece, realmente, valores mais altos como consciência espiritual, sentimentos de amor, carência estética ou senso de justiça."


Movimentos de Reação à Abordagem Mecanicista

Em meados do século XX, quando duas Escolas predominavam, o behaviorismo e a psicanálise, numerosos clínicos, pesquisadores e pensadores mostravam-se insatisfeitos com a orientação mecanicista destas escolas.

Uma tentativa de reunir novamente mente e corpo, levando o indivíduo a um todo unificado foi o ponto de vista organísmico ou holista. Jan Smuts é reconhecido como precursor filosófico da teoria organísmica por ser o criador da palavra holismo e por sua obra "Holism and Evolution", (1926).

O princípio básico da teoria organísmica, segundo Hall e Lindzey (1984), é que para que se possa compreender a função de qualquer dos componentes de um organismo, é necessário descobrir as leis pelas quais um organismo inteiro funciona.

Como principais características da teoria organísmica em relação à psicologia, destacam que ela revela a unidade, a integração, a consistência e a coerência da pessoa normal, sendo que a organização é um estado natural do organismo. Acrescentam os autores que esta teoria começa concebendo o organismo como um sistema organizado e procura analisá-lo, diferenciando o todo em suas partes constituintes, ressaltando que um elemento nunca é abstraído do todo ao qual pertence, nem estudado como entidade separada, sendo sempre considerado como parte integrante do organismo total. Estes teóricos acreditam ser impossível compreender o todo estudando diretamente as partes, pois o todo funciona de acordo com leis que não se podem encontrar nas partes. Por isso opõe-se ao atomismo, que primeiro reduz o organismo aos seus elementos e depois procura postular um princípio organizador que os integre em um todo organizado. Porém, a teoria organísmica postula que a organização já está implícita no sistema não permitindo que a integridade do organismo se perca pela análise.

Outro princípio da teoria organísmica seria o pressuposto de que o indivíduo não é motivado por uma pluralidade de impulsos, mas por um impulso dominante denominado "auto-realização", significando que o homem luta continuamente para realizar suas potencialidades inerentes, por todos os meios ao seu alcance, sendo que este propósito único dá direção e unidade à vida da pessoa.

Mesmo não considerando o indivíduo como um sistema fechado, a teoria organísmica tende a diminuir a influência primária e diretiva do meio externo sobre o desenvolvimento normal e a ressaltar as potencialidades de crescimento inerentes ao organismo.

A teoria organísmica utiliza-se freqüentemente dos princípios da Gestalt e crê que as funções isoladas do organismo como a percepção e a aprendizagem, constituem a base para a compreensão do organismo total, ampliando essas bases, ao incluir em seu campo tudo o que o organismo é e faz.

Esta teoria postula enfim, que se pode aprender mais com o estudo amplo de uma só pessoa do que em uma investigação extensiva de uma função psicológica isolada e abstraída de muitos indivíduos.

Curt Goldstein, eminente neuropsiquiatra e destacado representante da teoria organísmica, conclui que um sintoma não pode ser compreendido a partir de uma lesão orgânica, mas pelo organismo como um todo, que se comporta como um todo unificado e não como um conjunto de partes. Afirma que o corpo e a mente não são entidades separadas e que o organismo é uma só unidade, onde o que ocorre em uma parte afeta o todo.

Um dos fundadores da teoria humanista, Maslow, foi também um sério estudioso da psicologia da Gestalt. Foi influenciado pelo trabalho de Max Wertheimer e Curt Goldstein.

A escola de psicologia humanista, liderada por Abraham Maslow, rejeitou a idéia de Freud de que a humanidade é liderada por instintos básicos, criticando-o por basear suas conclusões em indivíduos neuróticos e psicóticos. Maslow discordava da idéia de Freud de que fenômenos como o amor, a apreciação da beleza, o senso de justiça, fossem interpretados como sublimação de instintos baixos ou como formação reativa contra os mesmos. (Capra, 1993)

Conforme Fadiman (1979), Maslow argumentava que era mais exato generalizar sobre a natureza humana estudando os melhores exemplos que pudesse encontrar, do que catalogando os problemas e falhas dos indivíduos comuns ou neuróticos. Acreditava que estudando pessoas saudáveis, seria possível explorar os limites da potencialidade humana.

Maslow criticou igualmente o behaviorismo por considerar o ser humano simplesmente como um animal complexo sujeito a responder cegamente a estímulos ambientais.

Maslow defende a abordagem humanista, na qual os psicólogos concentram-se na experiência humana, enfatizando que os seres humanos devem ser estudados como organismos integrais, dirigindo seus estudos a indivíduos saudáveis e aos aspectos positivos do comportamento humano.

Conforme Hall - Lindzey (1984) afirmam, Maslow acredita que há no ser humano um ativo desejo de saúde, um impulso para o crescimento, ou para a atualização de potencialidades humanas. Afirma que o homem possui uma natureza inata que é essencialmente boa e nunca má. Interessando-se pelo crescimento pessoal e pela "auto-realização", realizou uma ampla pesquisa com indivíduos que apresentavam experiências transcendentes ou culminantes, onde conclui que as pessoas que tiveram "experiências de pico" sentem-se mais integradas, mais donas de si mesmas, mais espontâneas, mais perceptivas, etc.

Os autores citados referem que Maslow acreditava que a ciência clássica mecanicista não era apropriada ao estudo da pessoa global, defendendo uma ciência humanística, não como alternativa para a ciência mecanicista, mas como um complemento para ela, que trataria de valores, individualidade, consciência, propósitos, ética e das mais altas conquistas da natureza humana.

Conforme Fadiman & Frager (1979), Maslow anunciou o desenvolvimento do novo campo, a Psicologia Transpessoal, por considerar a Psicologia Humanista como transitória, uma preparação para uma quarta psicologia mais elevada, transpessoal, transumana, centrada mais no cosmos do que nas necessidades e interesses humanos, indo além do humanismo, da identidade, etc.

Outro movimento que nasceu da resistência a uma visão estritamente mecanicista do homem, foi a Psicologia Existencial. Utilizando o método fenomenológico para conduzir as investigações sobre a existência humana, que consiste na descrição e explicação da experiência nesta mesma linguagem, que é concreta, os fenomenologistas não procuram elementos, mas tentam descrever e compreender a experiência como ela aparece imediatamente na consciência.

Hall - Lindzey (1984) esclarecem que a psicologia existencial rejeita o conceito de causalidade, o dualismo mente e corpo, e a separação da pessoa e seu ambiente. Refere que nesta escola o comportamento do ser não é encarado como resultante da estimulação externa ou de condições corporais internas, e que o indivíduo é livre para escolher e inteiramente responsável pela sua própria existência, sendo que o homem pode transcender tanto seu ambiente como seu corpo físico.

Os principais representantes desta escola foram: Ludwig Binswanger, Medard Boss e Rollo May.

É preciso destacar o ponto de vista desenvolvido por Carl Rogers, eminente psicólogo, autor de inúmeras obras e um dos fundadores da Psicologia Humanista.

Conforme Hall-Lindzey (1984), a teoria de Rogers também tem pontos em comum com a psicologia existencial sendo basicamente fenomenológica pois Rogers dá grande importância às experiências da pessoa, a seus sentimentos e valores e ao que se pode chamar de "vida interior".

Segundo Capra (1993), Rogers enfatizou a importância de se considerar o paciente de forma positiva e desenvolveu uma psicoterapia não-diretiva, "centrada no cliente". Revela ainda que a essência da abordagem humanista consiste em considerar o paciente uma pessoa capaz de crescer e se auto-realizar, e em reconhecer os potenciais inerentes a todo ser humano.

Incluída nas teorias organísmicas, a teoria de Rogers orienta-se por uma ênfase no organismo.

Devemos destacar a obra do psicólogo Carl Gustav Jung, que elaborou conceitos que transcenderam os modelos mecanicistas da psicologia clássica. Ele tinha consciência de que a abordagem racional da psicanálise freudiana deveria ser transcendida na exploração dos aspectos mais sutis da psique humana que estão além da experiência cotidiana. Este foi um trabalho que ele desenvolveu durante toda a sua vida.

Todos esses pensadores, entre outros, apesar de apresentarem muitos pontos divergentes em suas respectivas teorias, expressaram seu protesto contra o dualismo cartesiano mente-corpo do século XVIII, contra o apoio ao associacionismo do século XIX, e contra as tentativas de reduzir ou fragmentar o organismo humano.

Comments:
Estou cursando Administração, e em uma das disciplinas, na TA2, estuda-se muito a psicologia na Administração, por se tratar de uma matéria voltada ao ser humano. Em um dos textos que estudei, que trata de Behaviorismo, Abraham Maslow, é muito relatado, seu trabalho, suas teorias (em especial a dos 5 níveis, pergunto, a que período exatamente ele pertencia, ou se enquadra? Ao Behaviorismo, ou a outro? Gostei das características dele e de sua teoria.
MC
 
Estou cursando Administração, e em uma das disciplinas, na TA2, estuda-se muito a psicologia na Administração, por se tratar de uma matéria voltada ao ser humano. Em um dos textos que estudei, que trata de Behaviorismo, Abraham Maslow, é muito relatado, seu trabalho, suas teorias (em especial a dos 5 níveis, pergunto, a que período exatamente ele pertencia, ou se enquadra? Ao Behaviorismo, ou a outro? Gostei das características dele e de sua teoria.
MC
 
boa tarde ficou muito bom o seu trabalho, e vc conseguiu colocar de forma concisa os pontos essencias.
gostaria de saber quais foram as referencias bibliograficas que vc ultilizou.
obrigada
TATILA estudante do curso de pedagogia.
 
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